Gestão de pessoas na pandemia: desafios e dicas para cuidar das equipes de Limpeza Profissional

Enquanto a maioria da população foi chamada a “ficar em casa” durante a quarentena, as prestadoras de serviços de Limpeza Profissional não pararam. Pelo contrário, elas têm trabalhado mais que nunca e as equipes de limpeza – em especial as que atuam em hospitais e ambientes de saúde – tiveram de encarar o desafio de estar na linha de frente contra a Covid. Mas como as empresas estão lidando com os medos e incertezas das equipes durante a pandemia? Como mantê-las motivadas, bem informadas e evitar o absenteísmo? Quais as melhores soluções para capacitar e valorizar esses trabalhadores?

Para sanar essas e outras dúvidas, a Abralimp (Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional) realizou o webinar “Gestão de pessoas na pandemia: desafios e dicas para cuidar das equipes de Limpeza”. Mediado pela jornalista Fernanda Nogas, da revista Higiplus, o debate teve a participação de Jefferson Leonardo, diretor Executivo da ABRH Brasil; Carlos Eduardo Panzarin de Castro Mello, diretor Técnico da Abralimp; e Fernanda Bueno Giovannetti, membro da câmara de prestadores de serviços.

Gestão de pessoas e os novos protocolos

Da noite para o dia, o coronavírus obrigou a população mundial a se adaptar – e rápido – a uma realidade que ninguém escolheu. E a Gestão de Pessoas foi uma das primeiras a sentir as mudanças. Houve a necessidade da criação de novos protocolos, exigindo capacitação e conhecimento”, disse o diretor Executivo da ABRH, Jefferson Leonardo. “Não só protocolos de saúde física, mental, de distanciamento e higiene, mas também os operacionais, como os protocolos para o teletrabalho e a implementação da tecnologia, não só para o home office, mas para recrutamento e seleção, para integração de novos colaboradores, bem como para capacitação e para uma comunicação ágil”.

Veio também o isolamento social. E muitos profissionais passaram a ficar em casa. Mas os trabalhadores da limpeza viveram a situação contrária, sendo chamados a sair e se colocar à frente do combate ao vírus.

“É quase como um sinal trocado”, apontou o diretor Técnico da Abralimp, Carlos Eduardo Mello. “É como viver em um universo paralelo, onde tudo o que você vê de recomendações na televisão ou na internet sobre não sair de casa, não vale para você. E obviamente o colaborador começou a se perguntar: ‘Por que justamente eu é que preciso estar nessa linha de frente?’”.

Aqui passou a figurar o primeiro desafio: lidar com os medos e inseguranças desses colaboradores. “Foi necessário ser o mais transparente possível”, revelou Carlos. “Foi preciso mostrar que, sim, o risco existia, mas que a função dele era fundamental para promover a saúde e segurança das pessoas, e que o risco dele também poderia ser mitigado com EPI´s, com disciplina e cuidados pessoais corretos”.

Vencendo a barreira dos medos, veio o desafio seguinte: trabalhar os novos protocolos e técnicas de limpeza. Embora a pandemia não tenha trazido grandes novidades, mudaram os olhares, as frequências e as formas de limpar, seja priorizando superfícies de alto contato ou fazendo mudanças nos planos de trabalho, o que exigiu um protagonismo dos supervisores e demais lideranças.

Fernanda Giovannetti, que faz a gestão de cerca de 500 colaboradores de limpeza na Dasa, um dos maiores grupos de medicina diagnóstica da América Latina, encarou um desafio extra. “Quando se fala de áreas de assistência à saúde, as taxas de absenteísmo e turnover tendem a ser mais elevadas, pois o ambiente é insalubre e a atividade demanda mais do colaborador. Para manter as taxas de absenteísmo dentro da meta, mesmo com a Covid, usamos três estratégias: a primeira foi fazer testagens por amostragem, com um mapeamento das áreas mais vulneráveis, considerando que estamos falando de áreas onde as pessoas estão realmente ‘com a mão no vírus’. A segunda foi o envolvimento da supervisão, para tomar o papel de multiplicadora e levar o máximo de informação até a ponta. E, por fim, tivemos a sinergia com o cliente: desenhamos todos os protocolos a quatro mãos, estabelecemos fluxos de higiene, intensificamos a limpeza em pontos críticos e esse alinhamento foi imprescindível”.

Fernanda destacou ainda a importância da supervisão. “Um conselho que dou é ter um time de supervisão que compactue com os mesmos valores que você, pois certamente irão tomar atitudes e decisões semelhantes às que você tomaria”.

O papel das lideranças e a comunicação

Na Limpeza Profissional, aliás, a supervisão é o principal elo entre a administração e as equipes operacionais. Mas num momento de incertezas, como devem agir essas lideranças?

“Eu utilizo uma fórmula: ‘escutatória + informação + confiança’”, enumerou Jefferson Leonardo. “Escutatória porque escutar é diferente de ouvir, e o líder deve investir tempo para escutar os medos, as incertezas e dúvidas de seus liderados. Informação porque a comunicação é uma grande ferramenta e o líder precisa saber buscar informações de fontes confiáveis, até porque as pessoas vêm confiando mais nas informações das empresas do que nos governos, e isso é uma grande responsabilidade. E confiança porque não basta trazer a informação, é preciso acompanhar para ver se foi compreendida, se está sendo executada, ajudar a equipe a passar pelos momentos de adaptação e liderar pelo exemplo”.

Outro desafio é fazer esta informação chegar a todo o operacional, em especial num período de isolamento. Para isso, a empresa da qual Fernanda faz parte investe em tecnologia.

“Nas unidades onde temos liderança dedicada, uma das ferramentas de trabalho é o tablet. É nele, por meio de um aplicativo, que a liderança faz as inspeções de limpeza e demais processos, além de outras atividades, como a comunicação via whatsapp, e isso favorece muito a informação chegar à ponta. Temos vários grupos de whatsapp das lideranças e os munimos com toda a informação necessária, tanto técnica quanto motivacional. Durante o pico de pandemia, também usamos e abusamos das ferramentas de comunicação digital, como vídeos, e o time que faz as visitas periódicas se utilizou disso também. Tudo para que o colaborador estivesse treinado para promover saúde e bem-estar não apenas para o usuário, o cliente ou o gestor, mas também para ele mesmo”.

E o administrativo?

Embora o maior volume de trabalhadores da Limpeza Profissional seja operacional, há a parcela dos administrativos. E muitos se depararam com uma modalidade nova de trabalho: o home office.

Segundo uma pesquisa realizada em julho pela USP, com cerca de 1300 participantes, 70% gostariam de continuar trabalhando em home office, contra 19% que não gostariam e 11% que foram indiferentes. Se esses resultados se sustentarem ao longo do tempo, certamente a humanidade verá uma revolução inigualável na forma de trabalhar.

“Uma vantagem para o colaborador é a aproximação maior com a família e uma redução do estresse causado pelo trânsito e pelo grande gasto de tempo com deslocamentos”, apontou Jefferson Leonardo. “Para as empresas, há a redução com custos de aluguel, mobiliário e infraestrutura. Além disso, num momento de pandemia, poder trabalhar a partir de casa traz uma sensação maior de segurança ao trabalhador e diminui efetivamente os riscos de contaminação. E quem se sente mais seguro, tende a produzir mais e trabalhar melhor”.

Mas Jefferson lembra que também há desvantagens. “Na parte comportamental, pode haver a mistura da vida profissional com a familiar, o que exige planejamento e disciplina, inclusive para não exceder as horas trabalhadas. Além disso, há a situação de maior isolamento no caso das pessoas que moram sozinhas, o que pode inclusive resultar em problemas psicológicos”.

Saúde mental

Administrativo ou operacional, cada trabalhador neste momento está vivendo seus próprios desafios e dificuldades. Mas é fato que os operacionais tendem a ter mais fatores de estresse na rotina.

Além de muitas vezes trabalhar em locais de maior contato com o vírus, como áreas de saúde, também ficam mais expostos por passar horas nos meios de transporte, pelas questões de moradia ou mesmo por dividir a casa com mais pessoas, em alguns casos de grupos de risco. No caso das mulheres trabalhadoras, ainda pode haver o problema da violência doméstica, cujos números aumentaram durante a pandemia. Com todos estes fatores, é normal as empresas se perguntarem como ajudar a cuidar da saúde mental desses trabalhadores.

“É uma situação que nosso mercado deve olhar com carinho, pois temos uma particularidade: somos a porta de entrada no mercado de trabalho para um grande número de pessoas, muitas vezes com nível de escolaridade baixo ou como primeiro emprego”, destacou Carlos. “É um público com uma série de lacunas, e são questões delicadas, porque há limites até onde a empresa pode chegar em relação a problemas particulares dos trabalhadores. Mas é importante ter uma liderança preparada e com uma visão de acolhimento, para mostrar ao funcionário que, se precisar, pode contar com a empresa”.

Para auxiliar o mercado a cuidar de seus trabalhadores operacionais, a Abralimp também apoia a iniciativa Mobilização Paradigma, que fornece apoio psicológico voluntário e gratuito a trabalhadores de baixa renda que estão na linha de frente contra a Covid. O atendimento é feito de forma virtual e é aberto para as empresas divulgarem entre seus colaboradores operacionais. Mais informações podem ser obtidas no site: www.paradigmaac.org/mobilizacao

Neste momento em que a Limpeza Profissional está em evidência, nada mais correto que valorizar, dar o real significado ao trabalho de seus profissionais. Se antes era algo invisível, hoje as pessoas querem ver o ambiente sendo limpo, querem ver o colaborador executando a limpeza, vestindo equipamentos de proteção, usando processos e protocolos corretos. É o momento de unir as engrenagens do setor para fazer com que seja ainda maior, mais capacitado e mais apto a fornecer saúde e segurança para a sociedade.

Além do conteúdo discutido neste webinar, a Abralimp preparou o documento abaixo com respostas às principais dúvidas do público:

  1. Boa tarde! Como abordar o uso de drogas por filhos de colaboradores? – Andreia Cristóvão.

Primeiramente um líder de equipe precisa se demonstrar aberto e acessível para que possa apoiar em questões pessoais, por outro lado, caso o colaborador não esteja aberto é importante respeitar a individualidade, afinal, trata-se de um assunto íntimo e familiar. Porém, é interessante que as empresas busquem e implantem de maneira produtiva ações socioeducativas para os colaboradores em todas as suas esferas, pois dessa forma é possível integrar e cultivar valores que possam extrair resultados benéficos desde aumento de produtividade até proporcionar um ambiente laboral de bem-estar geral. A empresa, bem como a liderança precisa ter um discurso acolhedor para que o colaborador que esteja vivenciando um problema de drogas na família, ou qualquer outro de âmbito pessoal se sinta à vontade para receber apoio, dessa forma é mais fácil entender desde o absenteísmo até mesmo a falta de produtividade e se a empresa possuir ações socioeducativas ou parcerias dentro desse segmento, a busca por uma solução certamente será mais assertiva.

  1. Equipes estão sob muita pressão e cobrança e em contrapartida por vezes, não tem nenhum retorno. Qual a sugestão de vocês para ações motivacionais para valorizar as equipes nesse momento. Grata. – Escola De Limpezaas.

Acredito que a melhor forma de motivar os colaboradores é mostrar a eles, de forma transparente e honesta, a real razão/motivo de suas funções. É procurar faze-los enxergar qual o significado de seu trabalho, ou seja, mostrar que ele não limpa por limpar, mais sim que ele é um agente promotor de saúde e segurança no local em que ele trabalha, que a atividade dele é essencial para que aquela edificação possa funcionar.

Uma boa liderança precisa fornecer feedback, o retorno é o caminho que um líder conduz sua equipe para qual direção seguir. Seja um feedback positivo ou negativo, é de extrema importância que o líder dê o seu direcionamento de maneira ética, sem expor o seu colaborador. O primeiro ponto para motivar é acompanhar, escolhendo palavras respeitosas no momento certo, agregando valor a atividade que sua equipe executa. Realizar ações motivacionais em grupo ou individual através de mensuração de produtividade é algo que pode funcionar como um termômetro operacional: Elabora-se um instrumento para medir a produtividade, onde avalia-se a qualidade do serviço prestado, estabelecendo uma régua de pontuação e indicadores de absenteísmo, assim é possível premiar a equipe ou um único indivíduo. Essa ação pode ser executada de maneira simples, premiando através de valores em cesta básica, certificados, bombons ou até mesmo em folgas… essa é uma maneira de prestigiar um colaborador que está performando bem, servindo de exemplo para os demais. Os treinamentos e dinâmicas que abordem temas técnicos, comportamentais e motivacionais sempre possuem uma boa resposta para aumentar a satisfação da equipe operacional.

  1. Já existe procedimentos para estádios de futebol, para quando tivermos liberação para público? – Andreia Cristóvão.

Os procedimentos técnicos de limpeza e desinfecção para ambientes públicos já existem antes da pandemia, porém vivenciamos um novo olhar e cuidado para limpeza. Órgãos públicos e instituições estão sendo obrigados a estabelecer rotinas nunca antes vividas. Estádios de futebol quando estiverem liberados, não poderão receber público com sua capacidade total, certamente deverão marcar lugares para que evitem aglomerações. O uso da máscara deverá ser obrigatório e mais do que isso, deverá ser fiscalizado. O estádio deverá fornecer álcool gel em pontos estratégicos e a limpeza deverá ser contínua e frequente, principalmente em pontos críticos como corrimãos, maçanetas, botões de elevador, etc. Os colaboradores que prestam todos os tipos de serviços deverão estar altamente capacitados para receber o público e munidos de equipamentos de proteção individual. Após a saída do público é imprescindível que seja realizado algum processo de desinfecção de alto nível como por exemplo um sistema de desinfecção que emite raios Ultravioletas ou a pulverização eletrostática, essa é a mais utilizada por uma questão de custo benefício. Realizar processos de conferência e monitoramento da limpeza, como por exemplo medidores de ATP ou marcadores reflexivos certamente trarão mais segurança para que o público retorne a esse entretenimento que é o mais popular no Brasil. A divulgação das ações também serão um ponto crucial além de educativo, trazendo consciência e bom senso para quem decidir retornar aos estádios.

  1. Como fiscalizar adequadamente o serviço operacional, para evitar-se aglomeração de pessoas sem prejudicar o rendimento do trabalho? – Rubens Portella Júnior.

Neste caso a supervisão operacional pode realizar rondas no contrato para verificar o estado geral da limpeza, posteriormente pode acompanhar individualmente as atividades de cada colaborador ou de pequenos grupos de trabalho.

Para realizar diálogos e orientações e evitar aglomerações, pode-se escolher fazer estas atividades em locais abertos, que permitam maior espaçamento entre as pessoas, caso não seja possível ficar em áreas externas dividir a equipe em pequenos grupos e realizar diálogos separadamente. Outra forma de evitar aglomeração é fazer uso de tecnologias como whatsapp para realizar uma comunicação uniforme com todo o grupo.

  1. Já ocorreram alguns casos do Covid-19 entre pessoas que participavam da linha de frente das equipes de operação? – Rubens Portella Júnior.

Infelizmente todas as linhas de prestação de serviço possuem indicadores de absenteísmo por COVID. Equipes de todo o tipo de assistência estão vulneráveis ao contágio de diversas doenças, por esse motivo a capacitação e educação contínua são de extrema importância para conscientização.

  1. Tenho visto muitas avaliações positivas sobre o home office. Mas quais os pontos “negativos”? Interatividade, o trabalho em equipe, agilidade e cultura corporativa, o que perde? – Luiz Mattos.

Trabalhar em home office possui pontos positivos e negativos, cada trabalhador possui sua característica produtiva. Se perguntarmos para uma pessoa que leva mais de 02 horas para chegar em seu local de trabalho ele poderá responder que foi benéfico seu home office, porém se ele morar com crianças pequenas, cachorros e em um local de muitos ruídos, pode ter sua produtividade afetada. É muito relativo opinar sobre o tema, podemos perder a positividade do trabalho em equipe, mas podemos ganhar em produtividade individual. Podemos perder em integração de valores corporativos e empresariais, mas podemos ganhar em proximidade familiar e redução de estresse decorrente do tempo de deslocamento. O fato é que se a pessoa não tiver uma doutrina e organização de horários o home office pode não ser benéfico. É preciso mensurar, monitorar e analisar todas as variáveis para que a liderança tome a melhor decisão junto a sua equipe.

Clique aqui para ver o conteúdo completo do webinar de Gestão de Pessoas.

Fonte: Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional – ABRALIMP.

Foto/Divulgação: ABRALIMP.