Síndrome do Edifício Doente: sua saúde pode estar em perigo?

CIDADES COMO SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO, dentre inúmeras outras no nosso país, possuem histórias longas. Isso faz com que muitas das suas construções sejam antigas, em parte por um uso contínuo desses prédios, e também em grande parte pela preservação histórica.

O problema é quando esses edifícios possuem problemas de saúde que não são imediatamente notados, pois são problemas de saúde estrutural, uma doença da construção, por assim dizer. Uma delas é a SED, Síndrome do Edifício Doente que, segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), é definida como “um conjunto de doenças causadas ou estimuladas pela poluição do ar em espaços fechados”. Estes espaços fechados, em sua maioria, são as grandes edificações que começaram a surgir na década de 1970 e hoje são os lugares onde passamos a maior parte de nosso tempo. Em casos extremos, chegamos a ter construções do fim da década de 1930. Prédios de serviços públicos ou de empresas mais antigas no centro da cidade, e até mesmo residências, são os principais focos do SED.

É possível notar essas construções pelo estilo arquitetônico da época, pelo tamanho, pela ausência de tecnologias que só vieram a surgir mais adiante e que não foram atualizadas na construção. No caso de riscos à saúde é que temos um problema. A SED pode ser percebida quando, em pelo menos 20% dos usuários (ocupantes) destas grandes edificações, aparecem sintomas como: dor de cabeça, náuseas, ardor nos olhos ou coriza. A existência da SED só foi reconhecida pela OMS na década de 1980, quando houve uma contaminação coletiva de pneumonia num hotel na Filadélfia, o que ocasionou a morte de 29 pessoas.

No Brasil, o caso marcante foi no fim da década de 1990, quando morreu o então ministro das Comunicações, Sérgio Motta, em função do agravamento de seu quadro clínico que, segundo consta, foi devido à presença de fungos no ar.

De acordo com especialistas no assunto, a SED não provoca doenças, mas pode colaborar para agravar males em pessoas pré-dispostas ou até mesmo provocar um estado passageiro. Ou seja, quando estas pessoas saem das edificações consideradas com SED os sintomas desaparecem.

Numa outra linha de raciocínio, a SED pode provocar algumas doenças compartilhadas. Um exemplo clássico disso é o caso da já citada contaminação coletiva no hotel na Filadélfia (EUA), em 1976, pela bactéria Legionella pneumophila a qual causou uma forma rara e grave de pneumonia.

Um dos grandes problemas é que não temos ideia de quantos prédios hoje sofrem disso nas grandes metrópoles. Este é um dado difícil de se adquirir, talvez por medo dos responsáveis pela administração dos prédios em passar a informação. Porém, segundo a própria OMS, pelo menos 30% das edificações em todo o mundo sofrem de SED. No Brasil, este número pode chegar a 50%. São números alarmantes, mas que não tocam as autoridades competentes, surpreendentemente.

A melhor forma de combater (ou evitar) a SED é, entre outras, manter o ambiente limpo, ter controle sobre a quantidade e qualidade dos produtos de limpeza e conceber um bom sistema de ar condicionado, desde o seu projeto, passando pela instalação e comissionamento, até uma manutenção com qualidade.

Os cuidados com o prédio fazem muita diferença, então estar atento a isso é tarefa da administração, mas também pode ser motivada por um olhar cuidadoso e proativo dos ocupantes em geral.

Francisco Pimenta é engenheiro e membro do Departamento Nacional de Projetistas e Consultores da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar-condicionado, Ventilação e Aquecimento).