“Acordou pra quê? Acordou pra vencer!”

Uma Auxiliar de Limpeza que possui seis casas de aluguel; ou uma Gerente que começou como Recepcionista?

Conheça o perfil dessas e outras mulheres que, apesar da desigualdade de gênero existente no Brasil, desafiaram as estatísticas e venceram no setor de Limpeza.

A realidade, às vezes, é mais estranha do que a ficção: no Brasil, a mulher estuda mais, trabalha mais, mas ainda ganha menos do que o homem. Esta é a constatação da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD), realizada pelo IBGE.

As mulheres trabalham, em média, três horas a mais por semana, combinando trabalhos remunerados e afazeres domésticos. Têm também o maior percentual entre as pessoas que completam a graduação – índice 37,9% superior ao dos homens. Por outro lado, recebem apenas 3/4 do salário deles.

Mas não é só isso.

Entre 2001 e 2015, o número de famílias brasileiras chefiadas por mulheres cresceu 105%, chegando a 28,9 milhões. Ainda assim, em 2016, apenas 39,1% dos cargos gerenciais eram ocupados por mulheres.

A desigualdade de gênero existe e está nos números. Mas, na contramão destes fatos, há um verdadeiro exército de mulheres que desafiam as estatísticas e acordam todos os dias com um único objetivo: vencer.

Nesta reportagem da série especial sobre o Dia Internacional da Mulher (8 de março), o portal da Revista Higiplus apresenta o perfil de sete delas, que compartilham suas experiências sobre como é ser mulher no setor, como enfrentam os desafios e, acima de tudo, como é possível vencer, independentemente do cargo, na Limpeza.

Shirley Brandão

Shirley tinha apenas 18 anos, um filho de um ano de idade e precisava de emprego. Foi assim que começou a trabalhar como Auxiliar de Limpeza. As probabilidades até podiam jogar contra, mas a garota de pouca idade investiu em cursos, novos aprendizados, e cresceu na empresa.

Foi assim que conseguiu ser promovida à Encarregada. Depois, começou a fazer faculdade e, com seu destaque na área Operacional, veio um novo convite: assumir um cargo de planejamento estratégico na área Comercial. “Hoje estou no 3° semestre de Processos Gerenciais e me supero cada dia, sempre em busca de mais conhecimento”.

Atenta à própria história, Shirley destaca que mulheres em cargos mais altos são grandes exemplos para combater as desigualdades de gênero. “O empoderamento feminino e a difusão das profissionais em cargos estratégicos são bases motivacionais para outras mulheres, que ainda não conseguiram desempenhar de forma total as suas capacidades”.

Maria de Fátima Alves da Silva

 “Cada telha da minha casa eu consegui trabalhando na Limpeza”. É assim que a Auxiliar de Limpeza Maria de Fátima mostra o orgulho que tem pela profissão. Nascida em Solânea, na Paraíba, ela vive em São Paulo há 35 anos. E foi na capital paulista que conseguiu a primeira chance de trabalho.

 “Na época estava desempregada, não conseguia emprego em lugar nenhum, e a empresa me contratou mesmo eu não tendo registro na carteira”. Logo que começou, porém, Maria de Fátima e o marido se separaram, e ela teve que assumir sozinha a posição de chefe da família, apenas com o próprio emprego.

Mas, o que para muitos seria motivo de problema, para ela foi a chance de mostrar superação: “Foi com este trabalho que criei e eduquei muito bem meus dois filhos. O mais velho já é casado e o mais novo já fez cursos de inglês, de programação de sistemas e até de programação web. Tudo o que tenho veio desses 25 anos na Limpeza”.

Fabiana Scafuro

Fabiana entrou na Centrallimp como Recepcionista. O ano era 2010 e ela precisava custear os estudos. Mas, jamais imaginaria que este emprego simples poderia resultar em uma carreira como Gerente Operacional.

“Minha formação impactou muito, pois a Centrallimp era uma empresa em expansão. Talvez, se não tivesse ampliado meus conhecimentos, não teria acompanhado o crescimento da empresa”.

Hoje, no cargo que ocupa, Fabiana é consciente de seu papel feminino. “Sempre replico informações sobre as colaboradoras que foram promovidas, que passaram da limpeza para encarregada, ou outras que saíram para cargos de liderança. Vejo que vontade e determinação para alcançar sonhos são fundamentais para conquistarmos espaço”.

Josefa Maria Gouveia

 Atitude é o que não falta à Encarregada Josefa. Ela começou como Auxiliar de Limpeza na empresa Antomari, foi promovida, e encarou sem medo cada um dos desafios do novo cargo.

“Por ser mulher, alguns ainda achavam que eu não era capaz de liderar homens com a mesma capacidade que qualquer outra pessoa. E, sim, até hoje tenho funcionários que ainda têm resistência por eu ser uma mulher”.

Mas Josefa sabe mostrar a que veio: “Mantenho meu equilíbrio, sempre separando o profissional do pessoal. Mas acho que a mulher tem, sim, que ter pulso firme e deixar claro quando é ela que está no comando ali”.

Maria do Socorro de Sousa Leite

O setor de Limpeza é, muitas vezes, a primeira porta de entrada para o mercado de trabalho. Mas é fato: quem entra, gosta e decide ficar.

É o caso de Maria do Socorro, Líder de Limpeza na Getafe. “Comecei há 15 anos, em princípio por não haver outras oportunidades. Mas nunca saí, porque aprendi a gostar do meu trabalho. Tive muito aprendizado, novas experiências e hoje lidero uma equipe com mais de 15 colaboradores”.

Maria do Socorro já enfrentou preconceito no setor, mas também teve conquistas e hoje tem muito orgulho de fazer parte da Limpeza. “Me identifico nesta profissão, pois faço exatamente o que eu gosto”.

Para que as mulheres que querem se sentir mais empoderadas em relação ao seu trabalho, ela deixa um recado: “Faça aquilo que você gosta e que se sente bem fazendo; não trabalhe apenas pelo dinheiro”.

Treice Dornelles

 Jovem, bonita e num cargo de alta hierarquia: a gaúcha Treice conhece de perto os preconceitos no ambiente de trabalho. “Já fui julgada pela pouca idade, ou por ter boa aparência, como se por isso não pudesse ser inteligente ou competente, embora tenha assumido um cargo de liderança pela primeira vez aos 23 anos”.

Hoje, aos 33, ela é Assessora da Presidência na Liderança, empresa que reconhece amplamente sua qualificação. “Há dois anos atuo fazendo parte da alta hierarquia e, em 2019, fui eleita a mulher mais inspiradora da organização”.

“Mas, no mercado, também já vivi o desrespeito de gênero de alguns homens”, ela completa. “Já ouvi piadas machistas, às vezes até mesmo em sala de reunião, ou além da diferenciação de salário entre cargos mais elevados”.

Apesar disso, ela reafirma sua importância como parte da nova geração feminina na Limpeza. “Como mulher, contribuo mantendo a sensibilidade, a ética, sendo justa e acreditando no potencial das pessoas”.

 Maria das Dores Cantarelli (Dora)

“Eu tenho seis casinhas de aluguel, fora a que eu moro”. É assim que começa a história da Auxiliar de Limpeza Maria das Dores, mais conhecida como Dora.

Nascida na cidade de Floresta, em Pernambuco, em 1996 ela pegou os cinco filhos pequenos e se mudou para São Paulo. “Eu tinha me separado do meu marido e vim morar para cá com meus irmãos”.

Ela começou trabalhando em um dos cartões-postais da cidade, o Edifício Martinelli, quando a Paineiras ganhou a concorrência no local. E, desde então, está há 24 anos na empresa. “Eu sustentei meus cinco filhos só com esse emprego, não tinha outra renda”.

Renda, aliás, que ela soube multiplicar como poucos. “Comprei um terreno e comecei fazendo uma casinha e alugando; fazia mais uma e mudava para a próxima. E hoje tenho seis casas de aluguel, fora a que eu moro. Tem gente que diz: ‘Ah, com esse salário não consegue’. Mas consegue sim! Sabendo lidar, dá certo. É só querer!”.

Fonte: Associação Brasileira do Mercado de Limpeza Profissional – ABRALIMP.

Foto: Divulgação.