Especial Dia da Mulher: a história delas, na voz delas

Na Semana da Mulher, a Abralimp faz uma série especial com reportagens, webinar e várias homenagens a algumas das guerreiras que fazem parte do setor de Limpeza Profissional. Para começar, a reportagem abaixo traz cinco mulheres para você se inspirar: que tal uma que começou como atleta de vôlei e hoje é empresária e investidora-anjo? Ou outra que se formou em Direito aos 73 anos de idade? Confira essas e outras histórias, se emocione, e entenda de onde vem a força feminina que vem ocupando cada dia mais espaços no setor de Limpeza.

“Eu nasci no Paraná e morei lá até os 10 anos de idade. Venho de uma família de mais oito irmãos e, devido às dificuldades que tínhamos, meus pais resolveram tentar a vida em São Paulo”. Assim Edilaine Siena, conhecida carinhosamente como Edi, começa a contar sua história.

“Então, meu pai veio primeiro e nós viemos depois com minha mãe, todos os filhos na parte de trás de um caminhão de mudança”.

“Aqui eu sempre trabalhei. Minha mãe fazia pão caseiro para vender, salgadinhos, bolos, e eu vendia, teve uma barraquinha de cachorro-quente e eu cuidava da barraquinha de segunda a segunda na cidade de Embu. Foi assim até meus 14 ou 15 anos, quando comecei a trabalhar fora”.

A mãe de Edi então conseguiu se formar em Enfermagem, passou a trabalhar em uma fábrica e lá conseguiu um emprego para a filha na produção. “Nessa época, eu trabalhava de segunda a sexta-feira na fábrica, aos sábados em uma relojoaria, aos domingos como garçonete e ainda estudava à noite, e assim foi por cinco anos, até que me casei”.

Anos mais tarde, durante exames de rotina, Edi descobriu um câncer no colo do útero. “Fiquei arrasada, mas minha mãe, sendo enfermeira, me tranquilizou, e inclusive pediu ao meu médico para acompanhar minha cirurgia. A cirurgia estava marcada para abril, mas um mês antes minha mãe teve um AVC e veio a falecer”.

Edi, que na época tinha uma filha de sete anos, tratou o câncer e, meses depois, sem planejar, engravidou do segundo filho. “Estava no meio de uma separação, meu marido estava sem emprego havia oito anos, era apenas eu que sustentava a casa. Havia muitas dívidas, eu havia passado por um câncer, perdido minha mãe há poucos meses e meu irmão no ano anterior, então quando meu filho nasceu eu estava realmente esgotada”.

Separada e com duas crianças pequenas, na época Edi já trabalhava em uma prestadora de serviços de limpeza e foi convidada para entrar em outra, o que representou uma grande mudança em seu ciclo de vida. “Lá eu tive um salário melhor, consegui colocar todas as contas em ordem, e tudo se ajeitou, até que recebi a proposta para vir para a GPS, onde estou até hoje.  É curioso que hoje as pessoas, quando me veem arrumada, até pelo cargo que ocupo, não fazem ideia das coisas pelas quais passei em minha vida. Mas nada disso me tornou uma pessoa amarga ou triste, muito pelo contrário: me tornou uma pessoa grata. Eu agradeço todos os dias pelo que eu tenho, pois sei o que é a falta. E por conta disso, tenho hoje uma empatia muito grande pelas pessoas. Hoje sou muito grata por dizer que ajudo de coração todas as pessoas que posso”.

Tudo começou quando Vera, ex-atleta profissional de voleibol e apaixonada por empreendedorismo recebeu o pedido de ajuda de um amigo que enfrentava dificuldades para gerenciar uma equipe de limpeza de 11 colaboradores. Após muito estudo e com a ajuda da sócia Solange, nascia em 1997 a Centrallimp.

“Sou de Francisco Beltrão (PR), vim para Londrina (PR) e me formei em Educação Física pela UEL. Fui atleta profissional e também trabalhei na área de vendas mas, desde sempre, tive a veia do empreendedorismo. Por isso, falo com muita satisfação que, em mais de 30 anos de trabalho, só tive cerca de dois anos de registro como CLT”.

Além de empresária, há três anos Vera é também investidora em startups. “Sou investidora-anjo em um grupo chamado Smart Value e contribuímos muito para o ecossistema de nossa região, investindo em startups de saúde, agronegócio e educação. Participo também do Business Networking International (BNI), maior grupo de networking do mundo e estamos entre os mais atuantes do Brasil. Neste ano, ainda assumi na Associação Comercial e Industrial de Londrina (ACIL) como diretora para Micro e Pequenas Empresas, e estarei trabalhando lado a lado com a primeira presidente mulher, depois de 83 anos de existência da associação”.

Sobre o mundo da limpeza, Vera é categórica: “Não é fácil, mas nós sempre levamos com muita seriedade, dedicação, trabalho e resiliência. A questão de ser uma mulher empreendedora eu sempre encarei de frente, faço isso com muito orgulho, pois nasci com veia empreendedora e será assim até o fim da minha vida”.

A Psicóloga Fabiana saiu de sua cidade natal, no interior do Rio Grande do Sul, e foi em busca dos estudos em Porto Alegre com uma motivação muito clara: ajudar as pessoas.

Quando concluiu a faculdade, além de trabalhar em um consultório de Psicologia, também iniciou na Celta Serviços, organizando a área de recrutamento e seleção. Foi ali que ela percebeu que poderia ajudar muito mais gente. “Na época a empresa ainda era pequena e não havia entrevistas de seleção estruturadas ou testes psicológicos, então organizei toda essa parte. Depois fomos para a questão da avaliação dos colaboradores, de desenvolvimento e capacitação, e da estruturação de questões voltadas aos clientes. Quando percebi, já estava completamente envolvida com a área Operacional”.

Quando começou no mundo da prestação de serviços, Fabiana estava tendo seu primeiro filho. Hoje são três, entre 10 e 15 anos de idade. “Não é fácil conciliar tudo, principalmente para nós que somos mulheres, porque exigimos de nós muito mais até do que outros exigem. Mas hoje vejo que meus filhos também valorizam muito o fato de eu não ser só mãe, mas de ter outros papeis”.

Para continuar com o ideal de ajudar pessoas, Fabiana participa de vários grupos de mulheres empreendedoras. “Lá, nós falamos muito dessa questão das coisas ‘não positivas’ que acontecem, porque não é fácil e muitas vezes as pessoas só compartilham com os outros o lado bom, nunca os erros. Mas hoje posso dizer que tudo é parte de um processo de aprendizado que nos faz crescer. Hoje não me arrependo de nada, porque não precisamos de perfeição; mesmo aquilo que não dá certo é uma lição que nos faz ser as pessoas que nós somos”.

Em 1969, quando o rei Roberto Carlos lançava o álbum da música “As curvas da estrada de Santos”, uma garotinha de sete anos, sua conterrânea da cidade de Cachoeiro do Itapemirim (ES), via seu pai fundar aquela que seria conhecida como a Empresa Capixaba.

Mas a garotinha, Cátia, e seus irmãos, decidiram seguir por outros caminhos longe da empresa familiar. “Meu pai sempre fez questão que nós tivéssemos uma formação superior, para que pudéssemos ter nosso ganha-pão a partir do trabalho de forma independente. Então fui estudar em Viçosa (MG), me formei em Nutrição e fui trabalhar em uma multinacional, onde fiquei por 30 anos. Inicialmente trabalhei na Bahia, depois em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Vitória (ES), sempre na gestão do negócio”.

Depois desses 30 anos, já aposentada, Cátia retornou para Cachoeiro quando seu pai adoeceu, a fim de assumir a Empresa Capixaba e profissionalizar o negócio familiar. “Estamos nessa parceria com a Abralimp há dez anos, e isso foi fundamental, especialmente durante a pandemia, pois mostrou realmente a força da associação de classe, e permitiu acesso, mesmo a pequenas empresas que estão longe dos grandes centros, para que participássemos dos conteúdos técnicos”.

Sobre a força feminina no setor, Cátia não tem dúvidas: “Temos aqui uma equipe com mais de 160 funcionários e, desses, somente 13 são homens, então a Empresa Capixaba tem uma força muito grande que advém do feminino. Eu tenho muito orgulho de estar gerenciando esse grupo de pessoas formado em sua maioria por mulheres. A equipe é muito forte porque a engrenagem está sempre sendo calibrada, e mantemos o desafio de sempre querer o melhor para os clientes, colaboradores e para a empresa, porque juntos somos mais fortes”.

Nascida em Cachoeira Paulista, no interior de SP, em 11 de Agosto de 1945, sendo a filha do meio de cinco irmãos, dona Deusa sempre teve claro qual era seu maior sonho: ser bancária.

Para realizá-lo, mudou-se aos 18 anos para São Paulo, trabalhou em uma fábrica, depois bordou pedrarias em vestidos de noiva, e então trabalhou em duas imobilárias. E foi justamente sendo caixa em uma delas que surgiu a oportunidade de sua vida: foi convidada a trabalhar no então Unibanco. Lá foi caixa, tesoureira e supervisora administrativa, ficando de 1971 a 1986, tendo inclusive contato pessoal com a família Moreira Salles, proprietária do banco à época.

A vontade de cursar Direito, que também já vinha da adolescência, voltou de maneira inesperada. “Um dia, em 2013, eu estava andando por Guarulhos quando vi um anúncio para terminar o ensino médio. Na mesma hora me matriculei”. Ainda em 2013, dona Deusa teve a oportunidade de realizar outro sonho, viajar para Israel. Na volta da viagem, não teve dúvidas: decidiu que era hora de prestar vestibular para Direito. “Foi então que, aos 68 anos, comecei a fazer faculdade de Direito, no meio de uma turma de alunos de 18 ou 17 anos de idade, e que representaram os cinco anos mais felizes da minha vida”.

Ná época, dona Deusa já fazia parte da Tufann, empresa familiar onde é gestora em atividade até hoje. “Cheguei a pensar em desisitir da faculdade, pois estava dificil conciliar trabalho e estudos. Mas, como eu já tinha o hábito de acordar as três da manhã para orar, decidi que estudaria neste período. E então passei a ficar até 5h30 ou 6h00 estudando, lendo, depois pela manhã ia para a aula e de tarde ia trabalhar”.

No dia da colação de grau, dona Deusa foi muito homenageada por sua dedicação à faculdade e pela superação em se formar aos 73 anos de vida. “Neste dia, eu não cabia em mim de tanta alegria. Não foi fácil, mas foi um sonho realizado. Eu sou muito grata, pois foi a melhor escolha que poderia ter feito”.

Para quem está curioso para saber os próximos passos, dona Deusa já avisa: “Assim que terminar a pandemia, vou fazer a prova da OAB. Enquanto isso, chego em casa da empresa todos os dias, abro meu notebook e fico estudando. O que eu iria ficar fazendo, vendo novela?”.

Fonte: ABRALIMP

Foto: Divulgação ABRALIMP